Bayern e o mito do predador da liga
Post originalmente postado em fevereiro de 2018 no site ESPN FC Brasil.
Com a transferência de Goretzka para o Bayern confirmada, mais uma vez vimos surgir o já velho burburinho do chamado “Predador da Liga”. Um discurso muito conhecido que os bávaros adotariam praticas “desonestas” para acabar com a competitividade na Bundesliga e garantir sua hegemonia dentro da Alemanha.
Neste post, tentarei elucidar que essa “prática” de contratar jogadores de outras equipes, inclusive rivais, do mesmo campeonato não é nenhum feito digno de destaque e que isso é replicado por diversos clubes.
Para começar, também devemos deixar bem claro que qualquer time ao se reforçar deve pensar apenas nele, e caso os outros times não conseguem prender seus jogadores com bons contratos ou se reforçar a altura, isso jamais será a culpa do clube contratante.
Na nossa análise iniciaremos as comparações do Bayern com outros times dentro da própria Alemanha. Abaixo temos a comparação do número de jogadores contratados dentro da Bundesliga e, entre parênteses, o valor total dessas transferências em milhões de euros. Para a comparação, selecionei os cinco times alemães com maior pontuação somando as últimas seis temporadas:
Em números limpos já podemos destacar que entre os cinco times o que menos contratou dentro da Alemanha foi o próprio Bayern. Em gastos financeiros, os bávaros ficaram na terceira colocação, atrás de, respectivamente. Leverkusen e Dortmund. Dois fatores, dignos de destaque, que a maioria dos torcedores provavelmente desconhece.
Muitos ainda podem dizer que mesmo com um menor número de contratações e menos dinheiro gasto o Bayern sempre contrata jogadores dos times que ameaçam a sua hegemonia. Por isso, também levantei o número de jogadores que foram transferidos entre os cinco times acima no mesmo período:
Bayern, cinco jogadores: Goretzka, Hummels, Lewandowski, Götze e Dante.
Dortmund, seis jogadores: Dahoud, Toprak, Götze, Rode, Castro e Reus.
Leverkusen, quatro jogadores: Bender, Kampl, Papadopoulos e Can.
Mönchengladbach, quatro jogadores: Ginter, Kramer, Drmic e Hofmann.
Schalke, sete jogadores: Badstuber, Höjbjerg, Sam, Santana, Kirchoff, Barnetta e Neustädter.
Nessa lista podemos ver que o Bayern fica novamente na terceira colocação, com os cinco times com números bem similares, mostrando que a troca de jogadores entre os clubes é constante.
Claro que é importante ressaltar que a maioria dos nomes apresentados pelo Bayern são de maior destaque do que a maioria dos outros times. Porém, também é essencial falar que jogadores como Goretzka e Lewandowski vieram a custo 0 para os bávaros.
Além de, é claro, evidenciar o fato obvio que um time como o Bayern, com mais dinheiro, maior atenção da mídia e que chega com frequência as fases mais agudas da Champions League, conseguirá atrairá nomes mais fortes para o clube.
Agora comparando o Bayern com outros times mais dominantes de outras ligas, podemos ter ainda uma nova perspectiva sobre o assunto. Para isso selecionei PSG, Real Madrid, Barcelona e os três melhores colocados da Premier League nas últimas sete temporadas:
Nos valores, o Bayern fica bem atrás, na penúltima colocação, a frente apenas do Real Madrid. Em número bruto de jogadores, fica na primeira colocação, apenas um pouco à frente dos clubes de Manchester.
Se tudo isso ainda não é suficiente para acabar com esse estigma, ainda podemos falar que — ao todo — o Bayern vendeu ou emprestou a outros clubes alemães o total de 20 jogadores enquanto contratou 16 no mesmo período.
Resumindo, mesmo sendo uma praticamente extremamente normal um clube contratar jogadores de rivais ou equipes locais, o Bayern ainda fica na média europeia e abaixo da média dos outros principais times alemães. Ou seja, da próxima vez que for reclamar que seu time perdeu um de seus jogadores ou que a Bundesliga não está competitiva atualmente, é bom reclamar com consciência no lugar certo.